Estou no computador do hotel, desculpem a falta de acentuacao.
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As ultimas horas foram de tirar o folego de qualquer um.
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A travessia de Pto. Ibanez a Chile Chico foi tranquila. Lindas paisagens! A agua verde no inico fica azulada provavelmente a rios de degelo oriundos das muitas montanhas ao redor.
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Na travessia conheci tres motociclistas alemaes que alugaram BMW 650 em Osorno, Chile, e tambem rumavam para o Sul. Temos roteiros parecidos mas uma diferenca muito grande em relacao a motos - pelo menos no ripio. Seria impossivel acompanha-los neste piso e combinamos de nos encontrar em El Chalten. Sao 3 medicos alemaes muito bacanas. So um deles fala espanhol e me comunico com os demais num dificil ingles - poucas palavras e muitos gestos.
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Neste dia da travessia de barco fui ate Bajo Caracoles, Argentina, um lugar minusculo. Estrutura infinitamente pior que os lugares que ja havia passado ate entao. Dormi num quarto compartilhado - mas sozinho - numa hospedaje muito simples. O famoso e forte vento patagonico deu as caras e andar no ripio com vento forte nao e uma tarefa das mais simples.
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Sai cedo ontem de Bajo Caracoles pois teria cerca de 320 km de ripio pela frente. Tudo ia muito bem - na medida do possivel, pois o forte vento realmente complica demais a vida de quem se aventura por aqui. Quando completei 160 km de ripio uma fortissima tempestade me pegou. Parei a moto, era impossivel continuar. Uma grande e alta poeira se aproximava mas ainda estava longe. Desde que parei, nao consegui descer da moto e posiciona-la melhor. Toda minha forca era para continunar de pe, sobre a moto, pois caso deixasse cair a situacao pioraria. Fiquei com o peito sobre o tanque - o alforge de tanque voava feito pipa (estava preso ao quadro com um bom elastico) - e aquela poeira me engoliu. Nao conseguia mais ver 10 metros em nenhuma direcao e tive muito, muito medo. Uma caminhonete passou bem devagar e nao parou. Nesta hora todos querem salvar a propria pele. Nao havia o que ser feito. Fiquei cerca de 40 minutos nesta situacao, com o peito no tanque e controlando a moto para nao deixa-la cair. Eu precisava ficar de pe. Ja estava exausto com bracos e pernas no limite das forcas e cogitando deitar a moto no chao quando apereceu um furgao velho de um grupo de australianos e alemaes que perguntou se eu precisava de ajuda. Bem na hora! O furgao fez uma barreira bem proximo da moto e pude posiciona-la melhor. Peguei o algorge de tanque e recoloquei na moto. Eles falaram que nao poderiam ficar ali e se eu quisessse poderiamos andar lado a lado ate um local seguro. Isso seria feito pois eu tambem nao ficaria ali por nada! Encontramos os 3 medicos alemaes no caminho. Nao conseguiram seguras as motos e cairam. Estava um inferno. Os alemaes nao quiseram andar consosco por julgarem a situacao de andar emparelhado impraticavel. Segui junto ao furgao por 85 km e numa velocidade nunca superior a 30km/h ate um lindo lago, o lago Cardiel.
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Grandes salvadores! Nunca poderei retribuir o que fizeram por mim.
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Mas meus problemas continuariam ao longo do dia. Meu plano era abastecer em Tres Lagos para poder chegar em El Chalten. Consegui. Andar 320 km de ripio com a Hornet nao e facil. Cheguei ate a cidade de Tres Lagos onde sabia que tinha um posto de gasolina e precisava, de qualquer jeito, abastecer para chegar em El Chalten, distante 160km.
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O posto nao tinha gasolina ha 15 dias! Fui ate a cidade e ninguem quis me vender 5 ou 3 litros que eu acreditava que seria suficiente para chegar em El Chaiten. Todos falavam a mesma coisa: nao sabiam quando teriam novamente o combustivel e nao poderiam me vender nem um litro.
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Decisao dificil. O que fazer? Em El Chalten tem posto de gasolina e fica a 160km de distancia, pelo asfalto. Eu tinha gasolina para 100km e tinha certeza que NAO conseguiria chegar. Como estava sozinho e minha decisao afetava somente a mim, decidi seguir assim mesmo. Claro, ninguem ali me venderia e combustivel so apos 3 janeiro, provavelmente. Nao, eu nao ficaria ali de forma alguma.
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Peguei a estrada e faltando 40km para chegar em El Chalten, o meu destino final deste longo dia, me falta gasolina como era esperado. Um frio terrivel e ninguem para para ajudar. Apos 30min parado e pedindo socorro com um galao na mao para mostrar que precisava de gasolina, um fiat Tipo vermelho me vende 3 litros por 20 pesos. Que alegria! Enquanto abastecia, os 3 alemaes chegaram e pararam. Conversamos um pouco e seguimos em frente. Infelizmente uma das motos, a BMW branca, simplesmente apagou apos andarmos 10km. Que longo dia! Um pequeno problema eletrico que resolvemos em 1hora, num frio horrivel. E dificil trabalhar tremendo.
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Eles tambem tinham problemas com combustivel e achavam que nao conseguiriam chegar em El Chaltem - ninguem esperava que o posto de gasolina em Tres Lagos nao teria combustivel. Fomos colados, feito passaros, durante os 30km que restavam ate a cidade. Chegamos bem, depois de um dia extramente longo e que tive muito medo.
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Conversamos bastante sobre a terrivel tempestade de areia. Eles tambem estudaram bastante o caminho e nao viram nada a respeito. Eu tinha visto que o vento na RA 40, a estrada onde isso aconteceu, ja virou caminhao. Mas isso e raro. Comum e vento forte. Passamos relativamente bem por uma situacao atipica. Um dos medicos esta com um inchaco no braco esquerdo devido a queda e os outros dois tem hematomas. Conversamos demais sobre o que passamos e e impressionante como o sofrimento une as pessoas. Nao importa a nacionalidade.
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Nunca tive um dia tao complicado sobre duas rodas. Mas faz parte. Esta no pacote de aventura.
Mas foi um longo dia que terminou bem. Apenas mais um.
Infelizmente nao tenho foto hoje pois a net em El Chalten e horrivel.
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Abracos e feliz ano novo a todos!
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Relato de uma viagem de motocicleta à Ushuaia, cidade mais austral do mundo, por um caminho alternativo - Paso Agua Negra e Carretera Austral - com uma Hornet 2008 e esposa muito corajosa.
Puerto Ingeniero Ibañez, Chile, 28 de dezembro 2011
Faço uma pequena revisão na moto diariamente antes de iniciar mais um dia na estrada. Percebi os discos de freio pouco arranhados e não deu outra: as pastilhas já gastaram além do limite. O freio traseiro está menos pior, ainda consigo usá-lo por alguns dias mas também está comprometido.
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Na bagagem tenho peças de reserva mas não disponho de pastilhas de freio. Procurei a Honda de Coyhaique e não esperava muita coisa. Eles não tinham a pastilha, como eu suspeitava. A Hornet, minha moto, não existe no Chile e tentei encontrar a pastilha da CBR 600 que caberia e resolveria o problema. Nada feito.
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Aproveitei que estava na Honda e fui trocar o óleo do motor. Falei com o balconista se havia o óleo 20w/50 e ele respondeu que sim. Como não confio em meu espanhol, escrevi 20w/50 num papel e ele confirmou que tinha. Depois de retirado o óleo da moto e despejado num grande galão de óleos velhos e usados - parece piada mas não é - o dono da Honda se apresentou me pediu desculpas; disse que o 20w/50 tinha acabado! Dei risada pois pensei que estivesse brincando comigo. Ele continuava sério. Pronto, eis que surge um novo problema. Além das pastilhas, agora minha moto não tinha o óleo para o motor! Eu poderia bater o pé e fazê-lo se virar para encontrar na cidade um óleo 20w/50 para remediar a situação e resolver um problema que eles criaram. Mas não é assim que resolvo minhas coisas.
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Lembrei de um professor na faculdade que dizia o seguinte enquanto muitos de nós não conseguiam resolver determinadas equações: "Problema que não tem solução, solucionado está". O jeito foi colocar único óleo disponível, um Castrol 15w/50.
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Já em relação aos freios não tem jeito: Manuela, minha mulher, vai trazer na bagagem um jogo de pastilhas novas! Essa é a segunda parte do plano de viagem e talvez muitos aqui não conhecessem. Encontraria minha esposa em Ushuaia e iríamos, de moto claro, até Buenos Aires. Com este problema dos freios, apenas anteciparemos a vinda da Manuela talvez para El Calafate ou El Chaiten.
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Saí hoje de Coyhaique e parei em Puerto Ingeniero Ibañez, cerca de 115km mais ao sul. Cercado de montanhas, Pto Ibañez fica de frente para um lindo lago, o General Carrera. Fica bem próximo ao vulcão Hudson, que em 1991 cobriu Pto Ibañez de cinzas e tem apenas 2.000 habitantes. Não existem bancos aqui muito menos postos de gasolina. Combustível somente de forma informal em algumas casas.
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Em Pto Ibañez conheci um brasileiro dono do único bar com internet HiFi por aqui. Seu nome é René, de São Paulo. Arrumou uma ótima hospedaje, muita limpa e organizada, e ainda permitiu que usasse sua net. Quando a gente precisa, sempre aparece um sujeito assim na vida da gente. E brasileiro!! Tinha que ser. Valeu René, obrigado por tudo.
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Claro que o desgaste das pastilhas foi um grande erro meu. Estas são ainda as originais - a moto está com 59.000km - e achei que fosse durar toda a viagem pelo estado que estavam. Se fosse viajar por uma rota tradicional 100% asfalto, não teria este problema. Os caminhos escolhidos exigiram demais dos freios. Mais que eu pude prever. Foi um erro de avaliação e a culpa é inteiramente minha. Faz parte. Apenas preciso de uma reeducação na condução da moto. Atenção redobrada para não estragar os discos e complicar de vez a situação. Não é o pior dos mundos mas a situação exige cautela.
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Estou tranquilo e vamo que vamo.
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Abs
Coyhaique, Chile, 27 de dezembro de 2011 PARTE 2
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... Continuação:
Passei 12 horas embarcado: saída meia noite de Puerto Montt e chegada meio dia em Chaiten. O barco tem um conforto razoável e lembra a barca Rio/Niterói neste aspecto. Durante as primeiras horas fiquei comportado, sentado bonitinho. Depois deixei a vergonha de lado, arrumei um cantinho especial e dormi no chão feito um bebê. As botas foram um excelente travesseiro e pude colocar a briga no lugar. Acordei por volta das 10hrs com um monte de gente em pé por perto me olhando esquisito. Pelo menos agora estava realmente zerado e pronto para a estrada novamente.
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O desembarque na cidade de Chaiten foi tranquilo. O que não foi tranquilo, foi ver a cidade quase que totalmente destruída pela erupção do vulcão Chaiten, que ocorreu em maio de 2008 depois de "adormecido" por 9.000 anos! Parece uma cidade fantasma, coisa de filme mesmo. Cerca de 7000 pessoas viviam ali e foram retiradas, muitas à força, pela marinha chilena. A cidade ficou abandonada até 2009. Atualmente alguns moradores vivem ali e tentam restabelecer alguns serviços básicos com muita dificuldade. Eles não tem apoio do governo chileno, que deseja que o povoado seja reconstruído num local mais seguro, longe dali. O vulcão Chaiten, 1122 metros de altura, está a 10km a nordeste da cidade.
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Em termos de número de vulcões , o Chile ocupa o segundo lugar mundial e perde apenas para a Indonésia. São cerca de 2000 vulcões sendo 500 potencialmente ativos. Quanto as erupções, foram 60 nos últimos 450 anos.
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A cidade de Chaiten foi o ponto de partida para ingressar na internacionalmente famosa Carretera Austral. Em 1976, durante o regime militar do Pinochet, foram iniciadas as obras para construção desta estrada que tinha como objetivo principal a integração nacional além de deixar as fronteiras menos isoladas. Coisa de militar. Essa estrada é cravada na Cordilheria dos Andes, no meio da mata, na Patagônia chilena, uma das regiões menos exploradas do planeta.
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Tudo ali é muito belo e precário. Ontem mesmo dormi numa hospedaje familiar num vilarejo chamado La Junta, que tem cerca de 1.500 habitantes. Ao longo desta rodovia existem vilarejos de pessoas muito simples que vivem com muito pouco. Gente desconfiada mas que depois de pouco tempo abrem um fácil e contagiante sorriso. Crianças correndo de um lado para outro completamente agasalhadas - aqui faz muito frio e não é raro nevar no verão - na praça que é a principal atração de um lugar tão humilde.
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Voltando a estrada. É de rípio com pedras grandes e soltas que exigem atenção máxima. E é aí que entra o problema. Ficar atento ao chão não seria incômodo se não houvesse montanhas nevadas para todos os lados! A natureza aqui é extrema, singular. Mata fechada e paisagens que parecem montagens surgem do nada. A estrada é difícil. Subidas, descidas e derrapadas são comuns. O progresso é lento. Encontrei suíços, alemães, americanos e franceses nesta aventura. A maioria de 4x4 mas também de moto e grupos de bicicleta!! Cada um com seu meio de transporte e uma coisa em comum: o sorriso estampado na cara por viver algo tão especial.
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Continua...
Coyhaique, Chile, 27 dezembro 2011 PARTE 1
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Saindo de Pucon, dia 25 dezembro, fui a Puerto Varas conhecer o famoso Vulcão Osorno. São 320 km quase que totalmente percorridos pelo tapete da rodovia panamericana e seus $ufocante$ pedágios. Na panamericana houve algo interessante: de repente o tempo fechou. Imaginei que fosse chuva. Coloquei capa protetora na bagagem e em mim. Estava preparado para a água. Não era água e sim o vulcão Puyehue e sua já super conhecida fumaça. Muito densa esta névoa, até me enganou.
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Foi uma pena mas o Puyehue estragou um dos cenários mais aguardados: o vulcão Osorno. O Osorno tem 2661 metros de altura e é considerado um vulcão "adormecido" - sua última erupção foi em 1835. Como um sentinela, fica de frente para o lago Llanquihué, e tem sempre neve em seu topo. Por falar em topo, algumas agências de aventura te levam lá e alugam todo material que você precisa para a escalada. Mas não é fácil. Há alguns anos, um casal de brasileiros e mais três estrangeiros morreram durante a escalada. As condições climáticas aqui mudam rapidamente e é preciso estar atento ao tempo.
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Fui até Ensenada, cidade mais próxima do vulcão, e mesmo assim não consegui boas fotos. Deixa para a próxima.
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O melhor do dia aconteceu no final. No pátio da Navier Austral, enquanto fazia uma nova amarração na bagagem, conheci 4 caminhoneiros brasileiros. No início ficaram fazendo muitas perguntas sobre a viagem e ficaram impressionados. Os 4 trabalham para a mesma empresa e saem de Piracicaba-SP e vão até Quellón, ilha de Chiloe, buscar salmão. Salmão fresco. Rodam em média 1.000km por dia! A cabine é extremamente confortável e é ali mesmo que dormem. Num mês ficam 25 dias na estrada e 5 dias com a família. Sabem cada detalhe das estradas e dos costumes chilenos e argentinos. Quanta sabedoria! Obrigado, pessoal. Vocês mal sabem que, depois de tudo que eu ouvi, quem ficou impressionado mesmo fui eu. Vocês são os verdadeiros homens de coragem. A gente se encontra por aí, de preferência na estrada, para mais uma boa rodada de prosa e gargalhadas.
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Continua...
Pucon, Chile, 24 dezembro 2011
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Base do Vulcão Villarica, Chile
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Lago Villarica
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Detalhe para a fumaça - vulcão está em atividade
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Base do Vulcão Villarica, Chile
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Lago Villarica
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Detalhe para a fumaça - vulcão está em atividade
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O dia foi de descanso e reconhecimento do terreno.
O dia foi de descanso e reconhecimento do terreno.
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Pucon é uma pequena cidade aos pés do vulcão Villarica e cerca de 230 metros acima do nível do mar. À beira de um lago, também chamado de Villarica, a cidade recebe gente do mundo inteiro que vem aqui explorar as belezas da região.
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Meu objetivo maior aqui é subir até a base do vulcão - queria vê-lo de perto, muito perto. Para isso fui às lojas especializadas em aventura - e aqui existem muitas - fazer uma pesquisa de preço. Vans levam os interessados até a base ou então até um ponto estratégico onde é possível ir de teleférico até a base do vulcão.
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Fui conversando aqui e ali e decidi: nada de van! Não vou ficar espremido feito sardinha em lata. Vou de moto mesmo! Depois pegaria o teleférico e "voaria" até lá. Esse era o plano. Uma parte do caminho é feita no asfalto e outra - não tem jeito - é no rípio mesmo. Um rípio ruim de ser percorrido, pedras grandes e costelas de vaca fazem chacoalhar tudo. Consegui chegar ao teleférico depois de sofrer por esse caminho terrível e me informaram que o teleférico não estava funcionando hoje. Não entendi muito bem por que -nem sempre é fácil entender os chilenos; eles falam muito rápido. "Talvez seja pelo natal", pensei. Desistir nem pensar. Mais subida me espera. O caminho é sofrível mas é um preço justo para uma visão inesquecível. Aliás, mais uma.
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Abs
Pucon, Chile, 23 de dezembro 2011
O Pacífico
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Detalhe para o vulcão Villarica ao fundo
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Detalhe para o vulcão Villarica ao fundo
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Rodei cerca de 1.200 km pela Rodovia Panamericana até chegar aqui pertinho de Pucon, Chile. Paga-se pedágio a todo momento mas você tem um asfalto de primeira e é muito bem sinalizada. Asfalto de primeira não é aquele que você nem pode passar a segunda marcha, eheheheh. É permitido rodar na velocidade limite de 120km/h (veículos leves) e não é raro ver uns e outros muito além desse limite. Não é raro também ver policiais com radar móvel fiscalizando. O que não existe aqui são os radares que estamos acostumados, os famosos pardais fixos.
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Rodei cerca de 1.200 km pela Rodovia Panamericana até chegar aqui pertinho de Pucon, Chile. Paga-se pedágio a todo momento mas você tem um asfalto de primeira e é muito bem sinalizada. Asfalto de primeira não é aquele que você nem pode passar a segunda marcha, eheheheh. É permitido rodar na velocidade limite de 120km/h (veículos leves) e não é raro ver uns e outros muito além desse limite. Não é raro também ver policiais com radar móvel fiscalizando. O que não existe aqui são os radares que estamos acostumados, os famosos pardais fixos.
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Uma curiosidade: a Rodovia Panamericana corta todo o continente americano com aproximadamente 48.000km, desde Quellón (Chile) até Fairbanks, no Alasca. O ruim aqui é o vento. É preciso sair cedo do hotel pois do meio da tarde em diante, um vento forte, frio e úmido
açoita o país. Ao longo desta rodovia é possível ver enorme cataventos gerando energia para os chilenos. Andar de moto nessas condições requer cuidado e é muito chato.
açoita o país. Ao longo desta rodovia é possível ver enorme cataventos gerando energia para os chilenos. Andar de moto nessas condições requer cuidado e é muito chato.
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Cheguei hoje a cidade de Pucon. Por que vim aqui? Esta cidade fica ao lado do vulcão Villarica, com seus 2.874 metros de altitude. O pico está sempre nevado e o visual é incrível. A natureza sempre me impressiona! Desculpe mas troco qualquer praça, prédio, shopping, museu ou qualquer criação do homem para apreciar a natureza como ela é.
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Os índios mapuches, antigos habitantes dessa área, chamavam este vulcão de Rucapillan, que significa "casa do demônio" na língua deles. Veja a foto do vulcão atentamente e verá uma fumacinha saindo de sua cratera. É sério.
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Uma das maiores erupções ocorreu em 1971 e amanhã vou chegar o mais perto que puder.
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Abs
Los Vilos, Chile, 21 de dezembro de 2011
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A travessia da Cordilheira dos Andes, com seus quase 5.000 m altitude, foi o grande momento da viagem até aqui. Não saberia usar as palavras adequadas para explicar o que significa fazer a travessia Argentina-Chile pelo rípio do Paso Agua Negra. Este caminho é bloqueado pela neve o ano inteiro e somente no verão, quando o gelo começa a derreter, é possível a passagem.
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Antes de subir, silêncio total. Medo e tensão no limite do imaginável. Nada poderia dar errado hoje, nenhuma quebra, nem um furo de pneu e muito menos um erro na condução da moto. Hoje não. A respiração muda, a boca fica seca e instintivamente a perna treme. Vergonha? Nenhuma. A altitude exige muito respeito e cobra um preço muito caro para quem a desmerece. Não se tem socorro fácil e rápido do rípio lá em cima.
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Os metros vão sendo vencidos e o frio começa a apertar. Um vento forte e gelado é o fiel companheiro. O piso é pior que imaginei: muitas pedras soltas, escorregadio. É como se você andasse na areia mas com diâmetro dos grãos maior. Uma sensação parecida com andar sobre bolas de gude, acredito. Os primeiros gelos vão aparecendo e o termômetro que instalei na moto marcava 5ºC. É preciso estar preparado para o frio e o forte vento. É verdade que alguns lugares são mais protegidos e então tirar foto é fácil. Em outros, desprotegidos do vento, os dedos travam e bater uma foto vira tarefa complicada.
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Cenários improváveis e indescritíveis surgem a cada curva. Como a natureza é impressionante!
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Eu já havia cruzado a Cordilheira dos Andes em duas outras oportunidades: pelo Paso de Jama, para quem vai da Argentina ao Deserto do Atacama, e o Paso Cristo Redentor, que liga a Argentina à capital chilena. Todos são belos diga-se de passagem. Em Jama temos trânsito de caminhões durante todo o tempo. No Cristo chega a ser monótono tamanho movimento de carros e caminhões. No Paso Agua Negra, além de ser mais alto, é deserto, no rípio e o socorro não é fácil. É por isso que muitas pessoas vem aqui em busca de adrenalina e testar seus próprios limites.
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Eu já havia cruzado a Cordilheira dos Andes em duas outras oportunidades: pelo Paso de Jama, para quem vai da Argentina ao Deserto do Atacama, e o Paso Cristo Redentor, que liga a Argentina à capital chilena. Todos são belos diga-se de passagem. Em Jama temos trânsito de caminhões durante todo o tempo. No Cristo chega a ser monótono tamanho movimento de carros e caminhões. No Paso Agua Negra, além de ser mais alto, é deserto, no rípio e o socorro não é fácil. É por isso que muitas pessoas vem aqui em busca de adrenalina e testar seus próprios limites.
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Consegui. Passei pelo rípio do Agua Negra sem quebras, quedas ou algum mal de altitude. É um duro teste psicológico e uma grande conquista pessoal. Vários gritos foram abafados dentro de meu capacete, pura euforia. Alguns gritos são impronunciáveis.
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Deixo aqui registrado meu respeito a quem já fez essa travessia. Não importa com que meio de transporte e em grupo. O importante mesmo é ir, ver e sentir tudo que eu tive a oportunidade de viver hoje. Que grande dia eu tive!
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Deixo aqui registrado meu respeito a quem já fez essa travessia. Não importa com que meio de transporte e em grupo. O importante mesmo é ir, ver e sentir tudo que eu tive a oportunidade de viver hoje. Que grande dia eu tive!
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Obs: depois posto o resumo pois ainda não calculei nada e tenho muito chão pela frente.
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Obrigado pela companhia.
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Abs
Las Flores, Argentina, 20 dezembro de 2011
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Durante a manhã, por indicação de minha esposa, fui procurar a laguna que ela havia visto em sua pesquisa na internet. Após a cidade de rodeo, a 15km de Las Flores, lá estava a laguna. Nem precisei pedir informações. Muito perto e vale a visita.
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Depois fui conhecer o desafio do dia seguinte: a Cordilheira dos Andes, mesmo de longe , tão bela e assustadora ao mesmo tempo.
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Abs
Las Flores, Argentina, 19 dezembro 2011
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Sierra de Villicum - Argentina
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A caminho de Las Flores
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Entrada do vilarejo de Las Flores
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Os dois últimos dias foram muitos desgastantes: viajar de moto em pleno verão não é fácil, mesmo que para latidudes maiores que estamos acostumados. O sol castiga sem perdão e está acima do horizonte até 21hrs.
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A paisagem é basicamente a mesma desde o Paraguai: asfalto muito bom, retas intermináveis, poucas construções e longos campos com mata rasteira. Nenhum ponto de referência. Confesso que às vezes bate um tédio mas esse tédio faz parte do jogo.
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Passando a cidade argentina de Santa Fé, fica-se de cara para o oeste (isso mesmo, de cara para o sol!!) até a cidade de Las Flores, cerca de 1.150km seguindo em frente. Atravessei novamente as Sierras Grandes - em setembro 2010, na volta do deserto do Atacama com meu pai, pegamos um frio e neblina nesta altitude, 2.236 metros acima do nível do mar - e cheguei ao meu limite em Villa Dolores, onde saí da estrada para ir ao centro em busca de uma ótica para reparo da lente de meus óculos escuros que havia soltado ainda no Brasil. Grande alívio poder ver tudo menos claro novamente...
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A paisagem começa a mudar próximo a cidade (vilarejo!!) de Las Flores. Muitas pedras vão abrindo espaço neste novo cenário e isso é bem animador para quem há 3 dias via basicamente a mesma coisa! Além disso, a estrada começa a ganhar curvas e isso diminui exponencialmente minha capacidade de bocejar. Bocejei mais nestes dias que na minha vida inteira!
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Minhas mãos e cara estão ardendo demais. Protetor solar foi usado uma única vez durante todo o dia. Minha paciência para isso me permite apenas uma aplicação diária e nada mais.
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As coisas vão ficar realmente interessantes a partir de amanhã pois tenho que atravessar a Cordilheira dos Andes para chegar no Chile.
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Sierra de Villicum - Argentina
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A caminho de Las Flores
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Entrada do vilarejo de Las Flores
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Os dois últimos dias foram muitos desgastantes: viajar de moto em pleno verão não é fácil, mesmo que para latidudes maiores que estamos acostumados. O sol castiga sem perdão e está acima do horizonte até 21hrs.
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A paisagem é basicamente a mesma desde o Paraguai: asfalto muito bom, retas intermináveis, poucas construções e longos campos com mata rasteira. Nenhum ponto de referência. Confesso que às vezes bate um tédio mas esse tédio faz parte do jogo.
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Passando a cidade argentina de Santa Fé, fica-se de cara para o oeste (isso mesmo, de cara para o sol!!) até a cidade de Las Flores, cerca de 1.150km seguindo em frente. Atravessei novamente as Sierras Grandes - em setembro 2010, na volta do deserto do Atacama com meu pai, pegamos um frio e neblina nesta altitude, 2.236 metros acima do nível do mar - e cheguei ao meu limite em Villa Dolores, onde saí da estrada para ir ao centro em busca de uma ótica para reparo da lente de meus óculos escuros que havia soltado ainda no Brasil. Grande alívio poder ver tudo menos claro novamente...
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A paisagem começa a mudar próximo a cidade (vilarejo!!) de Las Flores. Muitas pedras vão abrindo espaço neste novo cenário e isso é bem animador para quem há 3 dias via basicamente a mesma coisa! Além disso, a estrada começa a ganhar curvas e isso diminui exponencialmente minha capacidade de bocejar. Bocejei mais nestes dias que na minha vida inteira!
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Minhas mãos e cara estão ardendo demais. Protetor solar foi usado uma única vez durante todo o dia. Minha paciência para isso me permite apenas uma aplicação diária e nada mais.
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As coisas vão ficar realmente interessantes a partir de amanhã pois tenho que atravessar a Cordilheira dos Andes para chegar no Chile.
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Resumo 4º dia: Resistencia-ARG a Villa Carlos Paz-ARG
954 km
52 litros
18,4 km/l
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Resumo 5º dia: Villa Carlos Paz-ARG a Las Flores-ARG
756km
756km
34,5 litros
21,9 km/l
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Abs
Resistencia, Argentina, 17 dezembro 2011
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Cerro Memby - Paraguai
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3º dia de viagem e o sol castiga sem dó. Muito quente. Antes assim que a forte chuva de quinta feira, na saída de MG. Com o papel de entrada autorizando entrada no Paraguai lá vou eu. O caminho foi este: Pedro Juan Caballero - Yby Yau - General Resquin - Arroyos y Esteros - Emboscada, totalizando 480 km. As pessoas são muito parecidas entre si - carregam o traço indígena bem marcante. O comércio estava aberto durante todo o início da tarde ao longo dos vilarejos que passei e pude perceber a simplicidade desse povo. Ao contrário de argentinos e uruguaios, o hábito da siesta, aquela famosa soneca após o almoço, não é comum por aqui. Comum mesmo é o tal do chimarrão. Para onde vc olha, vê alguém tomando chimarrão. Além do tradicional, eles tem uma variação só que com água fria chamado tereré. Para quem deseja fazer este caminho: muitos postos de gasolina e gomeria (borracharia) de sobra. Fique atento somente quanto ao dinheiro: aqui é na base do guarani, moeda local. Então é importante vc ter esse dinheiro pois não encontrará possibilidade de uso de seu cartão de crédito.
3º dia de viagem e o sol castiga sem dó. Muito quente. Antes assim que a forte chuva de quinta feira, na saída de MG. Com o papel de entrada autorizando entrada no Paraguai lá vou eu. O caminho foi este: Pedro Juan Caballero - Yby Yau - General Resquin - Arroyos y Esteros - Emboscada, totalizando 480 km. As pessoas são muito parecidas entre si - carregam o traço indígena bem marcante. O comércio estava aberto durante todo o início da tarde ao longo dos vilarejos que passei e pude perceber a simplicidade desse povo. Ao contrário de argentinos e uruguaios, o hábito da siesta, aquela famosa soneca após o almoço, não é comum por aqui. Comum mesmo é o tal do chimarrão. Para onde vc olha, vê alguém tomando chimarrão. Além do tradicional, eles tem uma variação só que com água fria chamado tereré. Para quem deseja fazer este caminho: muitos postos de gasolina e gomeria (borracharia) de sobra. Fique atento somente quanto ao dinheiro: aqui é na base do guarani, moeda local. Então é importante vc ter esse dinheiro pois não encontrará possibilidade de uso de seu cartão de crédito.
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A entrada na Argentina foi bem tranquila. Na aduana encontrei com alguns motociclistas que estavam indo a um Encontro de motos em Clorinda, cidade vizinha a aduana. Conversamos um pouco e dispensei o convite para me juntar ao grupo alegando que precisava ir o quanto antes para o sul - afinal, minha mulher chegará em Ushuaia dia 06 janeiro e não posso nem pensar em deixá-la esperando. Neguei também o convite para o almoço em Clorinda na casa de um primo deles com a mesma justificativa. É incrível como a raça de motociclistas é bacana! Fica para a próxima, pessoal.
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Resumo 3º dia : Ponta Porã-MS a Resistencia-ARG
779 km
40,6 litros
19,2 km/l
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até agora 2729 km percorridos. Média 910 km/dia e 18,7 km/l
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Abs
Ponta Porã-MS, fronteira com o Paraguai, 16 dezembro 2011
Cheguei em Ponta Porã, cidade brasileira na fronteira com o Paraguai, depois de 1950km percorridos em dois dias completamente diferentes. Ainda bem.
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Uma forte chuva já em Abre Campo-MG, cerca de 100km de casa, ainda naquela euforia inicial de viagem e ela me acompanhou até o fim da tarde. É a tal chuva passageira: viaja com a gente onde quer que vamos. O trecho pouco antes de João Monlevade-MG a Belo Horizonte foi o pior, agravado com o conhecido trânsito pesado que há anos faz parte deste cenário. Choveu demais mesmo. A luva vendida como impermeável encheu de água e poderia criar peixes nelas se assim quisesse. Antes de dormir, vi pela televisão que há possibilidade da prefeitura de BH decretar situação de emergência. No anel rodovário pude ver as pistas marginais alagadas até o joelho em alguns pontos. Foi pior que eu imaginava mas cheguei em Barretos-SP.
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O dia seguinte foi o oposto: sol, muito sol. Saindo bem cedo de Barretos-SP, pude aproveitar bem o dia para adiantar a viagem. Passei pelo rio Paraná, divisa entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, no início da tarde e corri para Ponta Porã antes que caísse a noite. Dia extremamente quente.
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Resumo 1º dia: Caratinga-MG a Barretos-SP
999 km
53,4 litros
18,7 km/l
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Resumo 2º dia: Barretos-SP a Ponta Porã-MS
951 km
52,0 litros
18,3 km/l
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Abs
Apresentação da viagem
Seria incorreto pensar que chegar à Ushuaia, cidade mais meridional do mundo, é o objetivo desta viagem. Ushuaia é apenas um dos objetivos de uma pequena mas incrível lista:
Paso Agua Negra;
Carretera Austral;
Geleira Perito Moreno;
Vulcões Villarica, Lanin e Osorno;
Cerro Fitz Roy;
Punta Tombo;
Estreito de Magalhães.
Aos poucos vamos falando mais sobre cada um a medida que forem percorridos/visitados.
Paso Agua Negra;
Carretera Austral;
Geleira Perito Moreno;
Vulcões Villarica, Lanin e Osorno;
Cerro Fitz Roy;
Punta Tombo;
Estreito de Magalhães.
Aos poucos vamos falando mais sobre cada um a medida que forem percorridos/visitados.
A km total percorrida deve ser ~ 16.500km. Manuela, minha esposa, voa para Ushuaia no início de janeiro e devemos ir de até Buenos Aires (~3.400km) passando por Punta Tombo, maior colônia continental de pingüins de todo o mundo.
Abraços
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