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... Continuação:
Passei 12 horas embarcado: saída meia noite de Puerto Montt e chegada meio dia em Chaiten. O barco tem um conforto razoável e lembra a barca Rio/Niterói neste aspecto. Durante as primeiras horas fiquei comportado, sentado bonitinho. Depois deixei a vergonha de lado, arrumei um cantinho especial e dormi no chão feito um bebê. As botas foram um excelente travesseiro e pude colocar a briga no lugar. Acordei por volta das 10hrs com um monte de gente em pé por perto me olhando esquisito. Pelo menos agora estava realmente zerado e pronto para a estrada novamente.
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O desembarque na cidade de Chaiten foi tranquilo. O que não foi tranquilo, foi ver a cidade quase que totalmente destruída pela erupção do vulcão Chaiten, que ocorreu em maio de 2008 depois de "adormecido" por 9.000 anos! Parece uma cidade fantasma, coisa de filme mesmo. Cerca de 7000 pessoas viviam ali e foram retiradas, muitas à força, pela marinha chilena. A cidade ficou abandonada até 2009. Atualmente alguns moradores vivem ali e tentam restabelecer alguns serviços básicos com muita dificuldade. Eles não tem apoio do governo chileno, que deseja que o povoado seja reconstruído num local mais seguro, longe dali. O vulcão Chaiten, 1122 metros de altura, está a 10km a nordeste da cidade.
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Em termos de número de vulcões , o Chile ocupa o segundo lugar mundial e perde apenas para a Indonésia. São cerca de 2000 vulcões sendo 500 potencialmente ativos. Quanto as erupções, foram 60 nos últimos 450 anos.
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A cidade de Chaiten foi o ponto de partida para ingressar na internacionalmente famosa Carretera Austral. Em 1976, durante o regime militar do Pinochet, foram iniciadas as obras para construção desta estrada que tinha como objetivo principal a integração nacional além de deixar as fronteiras menos isoladas. Coisa de militar. Essa estrada é cravada na Cordilheria dos Andes, no meio da mata, na Patagônia chilena, uma das regiões menos exploradas do planeta.
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Tudo ali é muito belo e precário. Ontem mesmo dormi numa hospedaje familiar num vilarejo chamado La Junta, que tem cerca de 1.500 habitantes. Ao longo desta rodovia existem vilarejos de pessoas muito simples que vivem com muito pouco. Gente desconfiada mas que depois de pouco tempo abrem um fácil e contagiante sorriso. Crianças correndo de um lado para outro completamente agasalhadas - aqui faz muito frio e não é raro nevar no verão - na praça que é a principal atração de um lugar tão humilde.
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Voltando a estrada. É de rípio com pedras grandes e soltas que exigem atenção máxima. E é aí que entra o problema. Ficar atento ao chão não seria incômodo se não houvesse montanhas nevadas para todos os lados! A natureza aqui é extrema, singular. Mata fechada e paisagens que parecem montagens surgem do nada. A estrada é difícil. Subidas, descidas e derrapadas são comuns. O progresso é lento. Encontrei suíços, alemães, americanos e franceses nesta aventura. A maioria de 4x4 mas também de moto e grupos de bicicleta!! Cada um com seu meio de transporte e uma coisa em comum: o sorriso estampado na cara por viver algo tão especial.
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Continua...
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