Cmte Luis Piedra Buena, Argentina, 10 janeiro de 2012




Extremo Sul mesmo


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Grandes cenários ficaram para trás...


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... e agora fazem parte da lembrança.


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Colocando a capa para mais uma chuva


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Sprays e kit borracheiro
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Opinião Manu:








O tão temido dia chegou: é hora de irmos embora de Ushuaia. Acordamos com uma dorzinha no peito, com um gostinho de quero mais. Ainda demos uma volta no centro da cidade, tentando adiar ao máximo nossa partida.



Vamos com uma certeza: a de que voltaremos um dia. Já estamos cheios de planos... quem sabe, descer até a Antártida? Mas isso deixa pra depois....
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O dia corria muito bem. Começou uma chuvinha chata, mas nada de mais. Estávamos 'lavando a alma'!!!! Até a hora do tal do rípio. Ele mesmo. De novo, o protagonista da história. Só que, dessa vez, minha relação com ele mudou. Se antes não tinha achado nada pavoroso, hoje o enxergo com um par de chifres vermelhos, fogo na boca e rabo muiiito comprido. Passamos um perrengue danado. Mas deixa pra Victor contar essa parte. Só sei que, apesar de tudo, tive muita calma e a certeza de que tudo terminaria bem. Afinal, o otimismo e o bom humor fazer tudo ficar mais leve. Só uma coisa: tenho que tirar o chapéu para meu marido. Ele foi um artista, equilibrista - mágico mesmo. Merece meu aplauso. De pé.


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Hoje foi tudo muito tranquilo. Acordamos exaustos, mas já loucos para ir para a estrada de novo. Temos ainda muita coisa para ver, e o tempo não pára!
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Fiquei absorta em meus pensamentos mais uma vez. A grandiosidade da vida fica muito evidente quando estamos viajando de moto. A sensação é única, acreditem. Muita gente (a maioria, tenho certeza) não entende isso, como pode querer e gostar de viajar assim, sem conforto, sujeito às vontades do tempo? Confesso que era uma dessas, que achava um 'loucura'. Mas loucura mesmo - hoje eu sei - é não se dispor a fazer isso, a pelo menos tentar.
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Sim, é muito mais confortável viajar sentada numa poltrona. Mas o tanto que se perde! Meu Deus, como se perde!!!! Se perde o contato com o povo - o povo mesmo, que faz uma questão danada de te ajudar, de vir falar com você; se perde a oportunidade de ver a cultura verdadeira de uma gente, suas cidades, costumes; se perde o contato com a paisagem, o vento no rosto, a chuva gelada. Se perde a sensação de liberdade. Se perde a vida!!! De moto, estamos ali, de frente com nós mesmos, durante todo o tempo que durar a viagem. Aí... aí a gente se perde em pensamentos. Se perde na vida....
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Sim, mãe: a gente faz o nosso 'deserto'....





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Opinião PV


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Realmente foi difícil sair de Ushuaia. A cidade agrada pelo clima, atrações naturais e comida. Ah, a comida... Fiquei entre o cordero fueguino e a centolla - um caranguejão sensacional- todos os dias. Encontramos muitos brasileiros e conversamos bastante. Algumas lojas aceitam nossa moeda, o real, isto mostra o quanto o Brasil é importante ali.


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Moto preparada, bagagens amarradas e partimos para a estrada. Agora nosso rumo aponta para o norte e qualquer distância percorrida nos aproxima de casa. Com apenas 20km percorridos, fomos obrigados a fazer a primeira parada: chuva! O tempo mudou rápido, uma grande chuva se aproximava rapidamente e a temperatura caiu para 9ºC. Nossas capas de chuva foram colocadas e voltamos ao batente pois tínhamos, além dos 310km de asfalto, duas aduanas (saída da Argentina e entrada no Chile) e 12okm de rípio pela frente.


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A viagem pelo asfalto traz uma grande tranquilidade independente das condições do tempo. Me refiro principalmente em relação a uma quebra ou problema na moto, pois há gente passando ali a todo momento e você pode conseguir ajuda com mais facilidade. Na Carretera Austral e na RA 40, onde passei no início da viagem, é você sozinho por muitos km e no rípio. O nosso rípio de hoje, que liga San Sebastian a Cerro Sombrero, era movimentado pois era rota obrigatória para quem vai à Ushuaia pela RA 3, toda asfaltada e principal caminho para esta cidade.


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Ainda não tinha andado no rípio na chuva. No começo foi bem tranquilo mas a situação piorou quando o chão começou a empoçar. Escorregávamos bastante e a roda traseira patinava num mímino descuido com o acelerador. Retirei as luvas para ter mais sensibilidade e nosso progresso era feito em zigue-zague onde a única obrigação era manter-se de pé. Paramos um pouco e notei o pneu traseiro baixo. Puxa vida, logo hoje? Não poderia ter acontecido comigo sozinho lá na RA 40? Depois de uma pequena avaliação, percebi que o furo não devia ser grande. Usei um spray que infla o pneu e cobre pequenos furos.


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Continuamos nosso progresso por menos de 10km e notei a moto diferente de novo. Paramos e agora sim tínhamos um grande furo no pneu traseiro! Escutávamos aquele som pavoroso do pneu esvaziando rapidamente e bem alto. Manuela perguntou quanto faltava para chegar à cidade mais próxima. Verifiquei a km e respondi cuidadosamente: 70km. Ainda faltava muito. O último frasco do spray - levava dois na bagagem e já tinha usado o primeiro 10km atrás - não daria conta daquele furo. Usei quase toda água que tínhamos para lavar o pneu e ter uma idéia geral de quantos furos tínhamos. Eram 2 furos: o grande "barulhento" e um bem pequeno. Peguei o kit borracheiro e usei aquele macarrãozinho no "grande" e esperei que o spray desse conta do pequeno furo.


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Aqui preciso fazer uma primeira observação: esse spray é novidade para mim. Sempre andei com um mas nunca houve necessidade de uso. Eu sinceramente esperava que o produto inflasse mais o pneu. Após o uso, o pneu continua muito baixo e isso causa um desconforto e insegurança muito grande. Continuarei viajando com o spray mas o ideal é ter aquele pequeno compressor de ar que, ligado a bateria, infla o pneu o quanto vc desejar. Certamente fará parte da próxima viagem.


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E assim contiuamos o nosso lento progresso com várias paradas para avaliação do pneu. Estava tudo ok com o furo mas aquela situação ainda me incomodava. Quero deixar claro que o problema do furo estava resolvido, eu queria apenas por mais pressão no pneu traseiro. Parava a moto para cada carro que surgia e perguntava se não havia um compressor para me ajudar. Ninguém. Muitos nem paravam. Um caminhoneiro chileno parou e resolveu nosso problema. Bem na hora!


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Terminamos de percorrer os 70km até Cerro Sombrero às 23:20hrs com muito frio e debaixo de chuva, claro. O tempo hoje foi implacável com a gente.


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Preciso fazer um agradecimento e uma observação antes de terminar. O agradecimento especial é para Gutti, mecânico de confiança em Caratinga-MG e gente finíssima, que FEZ QUESTÃO de me emprestar seu kit borracheiro, além de explicar corretamente o seu uso. Deu tão certo que fui a gomeria - borracharia aqui - e apenas calibrei pneu em Cerro Sombrero. Já rodamos mais 360km e o pneu está zerado!


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A observação que tenho a fazer é em relação ao comportamento de Manuela, minha esposa e valente garupa. Todos sabemos que uma situação de pneu de moto furado é complicado, pois não há pneu reserva. Tínhamos chuva, vento, lama, muito frio e o isolamento que o rípio dá, para agravar a situação. Nem todas as pessoas mantém a calma e serenidade nestas condições. Manuela sim. Que guerreira! Enfrentar o que enfrentou e, principalmente, da forma que enfrentou, não é para qualquer um. Isso não foi, de forma alguma, uma supresa para mim. Escrevo isso apenas para deixar registrado minha admiração por sua coragem e companheirismo mesmo quando tudo parecia que não daria certo. Estamos juntos até o fim.


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Obrigado por fazer parte de nossa viagem e até a próxima!


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Abs

3 comentários:

  1. è isso ai primo(a), vem todos com Deus.
    Quero que saiba que fico muito orgulhoso pela coragem e perseverância de vocês dois, quem sabe de vocês três né?,rs.

    Att: Leonardo Sciammarella e familia.

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  2. Parabéns pela viagem, determinação e planejamento de Vocês, que Deus acompanhe em todos os passos deste retorno. Grande abraço
    Sanderval

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  3. Oi gente... fiquei tão preocupada quando soube do problema do pneu, mas que bom que no final deu tudo certo. Espero que daqui pra frente vcs não tenham mais nenhuma surpresa desagradável e que o resto da viagem seja tranquilo e repleto de coisas boas e grandes emoções, assim como tem sido quase sempre. Boa sorte!
    Beijo grande e venham com Deus

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